Vinhos Com Mais de 10 Anos no Saca Rolha

Mais um encontro da Confraria Saca Rolha e a amiga, confreira e sommelière Raquel Santos nos traz sua percepção sobre mais um agradável encontro dessa turma pra lá de porreta!

        A ideia de guardar um vinho com a intenção de aperfeiçoar suas qualidades, é uma prática que ainda se adota,  independente de qual tipo de consumidor você seja. Quando pensamos em vinhos maduros, a primeira coisa que nos vem à cabeça é que serão vinhos melhores.  Porém, só o tempo não é suficiente para melhorar um vinho.  Poucos são os  que conseguem envelhecer com qualidade e que verdadeiramente se beneficiam com esse tempo de descanso.

       Seja qual for o estilo ou procedência, um vinho bem feito significa que foi bem estruturado. Ou seja, quando nele conseguimos perceber o perfeito equilíbrio entre a acidez, tanino e corpo. O tempo de guarda favorece o amalgamento entre esses  elementos fazendo com que convivam de forma harmônica, sem que um se sobreponha aos outros. O tempo faz muito bem aos taninos que necessitam de descanso para amaciar sua agressividade natural.

    Quando pensamos no tema do nosso encontro da confraria a  escolha foi unânime! A oportunidade de degustarmos vinhos com mais de 10 anos seduziu à todos, talvez pelo mito de que vinhos dessa idade seriam certamente muito bons! Como de praxe, sempre preparamos as papilas com um Espumante de “boas vindas” que foi a primeira surpresa da noite:

Espumante Undurraga Rosé  – Pinot noir 60%  e Chardonnay 40% – Cor muito interessante, bem clarinha, lembrando melancia. Ótima acidez e frescor, que pede comidinhas para aperitivar e bate papo com amigos. (Gentilmente oferecido pelo casal Marc e Márcia)

Começamos então a ”conversa madura “ :

 Watershed – Margaret Rivers – Shiraz – 2001 Australiano do sudoeste, mostrou-se bem complexo nos aromas. Toques florais, adocicados de tosta da madeira. Muito sedutor no nariz que não parou de evoluir. Na boca era potente, com frutas maduras, ameixa vermelha, a picância típica da Shiraz (pimenta do reino), café.

 Avondale –  Reserva Shiraz – 2001 Sul Africano da região de Paarl. É o que se pode dizer de um vinho equilibrado. O tripé estrutural: Acidez+tanino+corpo em harmonia total. Aromas agradáveis em que se destacou um certo “sur-bois”.

 Luis Cañas – Rioja Gran Reserva – 2001Espanhol de Rioja, teve maturação de 12 meses em carvalho francês+ 12 meses em carvalho americano+ 36 meses na garrafa. Talvez por isso demorou um pouco prá acordar. Com um pouco de tempo na taça mostrou à que veio: Muito suave, redondo e macio com aromas que apareciam um a um sem cessar e sem sobreposição. Um bom exemplar que demonstra perfeitamente a tipicidade das uvas, clima e solo da região.

 Pausa para reflexão:

 Três senhores vinhos, no alto de seus 12 anos, muito bem feitos, apresentando toda a tipicidade que se esperava da região de onde nasceram…mas ainda faltava alguma coisa!

Eis que o João, de surpresa, resolveu desarrolhar mais uma garrafa (provavelmente a última dessa safra na América Latina) que havia ficado de fora da lista. Outro “Senhor” de mais ou menos a mesma idade dos anteriores:

 Domínio Cassis – Abraxas – 2002 Desta vez, um uruguaio,  elaborado com 100% Tannat.  Esta casta, conhecida pelo grande potencial tânico (como o próprio nome sugere) certamente encontraria no tempo de maturação muito à seu favor.  Chamou atenção pela cor bem escura, quase preto. Apresentou aromas elegantes, frescos, com notas herbáceas e especiarias. Ataque macio e redondo, encorpado, com os taninos presentes, porém finíssimos. Boa acidez, muito bem incorporada,  que valorizava todos os outros elementos , tornando as sensações  de boca bem longas.

 Para encerrar a degustação, já estava previsto um Porto acompanhado do queijo da “Serra da Estrela”.

 Burmester – Vintage Porto – 2000. Equilíbrio perfeito entre a acidez+doçura+corpo. Muito fácil de tomar. Agradável sem ser enjoativo. Harmonizou muito bem com o queijo que apesar da sua opulência e aromas marcantes, foram realçados pelo vinho. Em contrapartida, o queijo realçou a cremosidade do vinho.

       Em poucas palavras, vivenciamos emoções das mais diversas: Começamos com a alegria do encontro dos amigos. Fomos apresentados a um australiano que era pura sedução; Depois conhecemos um sul africano correto, fino e educadíssimo; Mais tarde veio o espanhol. Chegou um pouco tímido mas foi se abrindo aos poucos. Contou histórias muito interessantes! Mas sempre educado e falando baixo; Quando chegou o uruguaio a festa ficou bem animada e todos falavam ao mesmo tempo; No final o casal de portugueses deu o tom. Não pararam de falar um minuto e foram embora rapidinho. Não deu tempo nem de fotografar o acontecido!