Descobrindo a Argentina e Seus Vinhos – Valles de Calchaquies, Você Conhece?

DSC01459         Numa região pouco conhecida entre nós, a de Salta, fica o coração dos Valles de Calchaquies uma sequência de vales que vão de Salta, passando por Tucuman até a região de Catamarca em longos 520kms, dos quais percorremos cerca de 200 nesta viagem. Uma região inóspita, de rios secos a maior parte do ano, de uma beleza agreste inacreditável e marcante, um lugar para não ir se você for do tipo que não vive sem uma balada e um shopping. Aqui, estamos num mundo diferente, com uma altitude média por volta dos 2000 metros e muita areia e cactos, um lugar seco, desértico com uma precipitação anual ao redor de 200ml ano! Como algo cresce por aqui é quase que um enigma que só o homem explica, uma região mística que tem em Colomé, primeira bodega Argentina datada de 1831 com vinhas de 1854 ainda produzindo, seu ápice. Lá, encontramos o vinhedo mais alto do mundo a 3100 metros, seguido de um vinhedo no Nepal e depois mais vinhedos da região de Colomé entre 2100 a 2600 metros, voltei de lá verdadeiramente enamorado pelo local, seu povo e seus vinhos que pouco conhecemos aqui no Brazil pois a grande mídia e importadores concentram suas ações em Mendoza e mais recentemente, a Patagonia.

      Nesta região, mais do que a Malbec que por si só já e diferenciada, sem aquela fruta compotada mais comum aos de Mendoza,  estamos em terra da Torrontés e estes vinhos evoluíram muito nos últimos anos desde meu Desafio de Torrontés realizado em Março de 2009, que agora me deu vontade de repetir com os mesmos corajosos degustadores da época! Estão menos enjoativos, mais equilibrados e finos, ótimos parceiros para as empanadas salteñas e frutos do mar grelhados ou fritos. Provei pelo menos uns sete que me deixaram muito entusiasmado então quero deixar aqui uma sugestão aos amigos, deixem de lado seu preconceito para com essa uva que a cada ano gera vinhos mais interessantes e quem a conheceu há três ou quatro anos, revisite estes vinhos. Tenho a certeza que, como eu, você também se surpreenderá.

DSC01456Amalaya Branco – Torrontés cortado com riesling que lhe aporta uma acidez muito gostosa. Está no Brasil e custa ao redor dos R$43,00 o que é uma ótima pedida para este verão e praia!

Colomé Torrontés 2011 – colhido em duas etapas, a primeira algo mais cedo para garantir uma melhor acidez e consequente frescor, possui uma paleta olfativa sedutora com toques sutis de flores brancas (jasmim), equilibrado, amplo certamente um belo companheiro para comida Thai ou Mexicana.  Muito bom, anos luz á frente do que tinha provado de 2007, e também está por terra brasilis custando algo ao redor de R$50,00.

Michel Torino Collecíon Torrontés – um degrau abaixo, mas muito saboroso na boca onde a fruta aparece de forma mais escancarada com final muito agradável e álcool bem integrado. Um bom vinho de gama de entrada para a cepa já que deve andar por aí ao redor dos R$30,00. Do mesmo produtor, bom também o Don David num patamar mais alto de preço e sofisticação que merece ser conhecido.

Felix Torrontés  – Um estilo diferenciado advindo de vinhedos com mais de 100 anos. Passa um tempo sur lie o que lhe dá mais complexidade e um nariz algo mais doce. Frutos sobre maduros, uma leve passagem por madeira que não atrapalha, um belo vinho que surpreende e custa por aqui algo ao redor de R$78,00, um outro patamar de produto e complexidade.

El Porvenir Laborum Torrontés 2012 – também faz colheitas em estágios, desta feita em três, para conseguir um vinho super elegante e equilibrado. Muito fino, encanta na boca com seu frescor e toques cítricos, um dos que me mais gostei desta leva de provas e só me arrependo de não ter trazido uma meia dúzia de garrafas. Preço em Sampa ao redor de R$60,00.

Yacochuya Torrontés 2012 – o vinho não agradou muito ao Marcos e Arnaldo Etchart, donos da respeitada vinícola, saindo algo fora do padrão deles, mas eu adorei! Que eles sigam errando sempre, modo de falar porque o vinho efetivamente reproduziu as características da safra! O desvio que não lhes agradou, no entanto, me seduziu o que mais uma vez comprova que nossa vinosfera não é, decididamente, binária. Por volta dos R$65,00.

Etchart Gran Linage 2012 – baita vinho. Sutil, fino, leve floral de flores brancas e algum toque de pessêgo, bom volume, balanceado, final de boca longo e muito agradável  com notas que nos fazem lembrar de grama molhada / lima e bom frescor. Uma seleção de uvas de diversos vinhedos que visam alcançar um estilo prédeterminado pelos enólogos da casa. Mais um que deixou saudades!

        Uma outra cepa que sequer sabia que se plantava por lá me surpreendeu muito positivamente com alguns rótulos realmente sedutores que me levam a querer provar mais, é a Tannat que aqui produz vinhos algo mais macios, taninos firmes e mais aveludados que o tornam algo mais apeteciveis  e fáceis de tomar. Dois rótulos (+ 1 em barrica) me chamaram muito a atenção mostrando que há aqui uma nova fronteira a ser explorada paraa tannat:

Colomè Lote Especial 2010 – que por aqui não chega, mas vi em Buenos Aires a 199 pesos, é um vinho de ótima paleta olfativa, frutos negros bem presentes e algum tabaco. Na boca é muito rico, sedoso e sedutor, adorei e está pronto a beber. Somente cerca de 1400 garrafas produzidas.

Quará Single Vineyard Vina El Recreo 2010 – marcante presença de boca, boa tipicidade, complexo, taninos aveludados presentes porém sem qualquer agressividade, um vinho que surpreende quem tem em mente os tannats dos vizinhos uruguaios e certamente disputaria com honras uma degustação comparativa às cegas.

Etchart – ainda em fase embrionária, porém provamos uma amostra de barrica de um vinho que faz parte de um novo projeto deles e foi de tirar o chapéu. Vem coisa boa por aí!

       Outra surpresa é que esperava vinhos bem mais estruturados, densos, alcoólicos e super extraídos, porém essa é mais a marca registrada de um produtor que escolheu esse caminho e tem sua leva de fiéis seguidores, do que da região como um todo, pelo menos considerando-se o que provamos e que não foi pouco, cerca de 70 vinhos! Durante este mês falarei um pouco mais dos vinhos que mais me surpreenderam e me seduziram, boa parte deles disponíveis por aqui no Brasil.

       Bem por hoje é só, mas seguirei postando mais de minha experiência pela diversidade dos vinhos argentinos. Sim, porque quem acha que na Argentina só há Malbec, Cabernet Sauvignon e Chardonnay, está na hora de rever seus conceitos!

       Salute, kanimambo e seguimos nos encontrando por aqui. Já reservou seu lugar na Grand Degustation 2012? Ainda existem seis lugares vagos, aproveite a oportunidade de curtir grandes vinhos, ótima comida e desfrutar do alto astral dos encontros enogastronomicos na Vino & Sapore num evento que, como os bons vinhos, promete ser de longa persistência, só que na memória!

Obs. Para boa ordem, esta viagem foi realizada a convite da Wines of Argentina. Fotos retiradas do livro Colomé 180 anos.