Salvaguardas – Pensamentos Soltos

       Semana que vem volto a falar de vinhos e experiências gastronômicas, tenho um monte de coisas represadas em função desta excrescência chamada Salvaguardas! Também iniciarei a postar os textos de uma amiga que se mandou para terras francesas (Eliza Leão) e que agora nos falará esporadicamente sobre a região do Languedoc e seus vinhos, enfim vou retomar as rédeas de meu blog antes que seja tarde! Rs Hoje, como chato (de galocha) assumido contra as salvaguardas que sou, ainda vou tecer alguns comentários com algumas das coisas que tenho ouvido e visto, porém antes deixo aqui um pensamento para reflexão:

“Quase todos os homens podem suportar a adversidade,

mas se você quiser testar o caráter de um, dê-lhe  poder.” Abraham Lincoln 

Debate do Vinho:

     O debate ficou aquém do desejado, até porque os homens da Ibravin falaram tanto que pouco tempo sobrou para debate. No entanto algumas coisas ficaram claras, para mim pelo menos, e gostaria de ressaltar alguns tópicos para reflexão:

1 – todas as decisões são unânimes e a ACAVITIS faz parte da Ibravin, então me parece que os produtores Catarinenses têm que buscar resposta em sua associação que aderiu, ou se absteve, quando, pelo menos ao que consta, a maioria de seus associados é contrária ás Salvaguardas. Seria interessante uma manifestação oficial de sua presidência.

2 – O Sr. Leocir Bottega, que deveria falar do custo de produção no Brasil, passou o tempo inteiro numa manifestação de defesa da Ibravin e de números pouco falou. Quando o fez, me lembrou aquela frase do economista Rodrigo Constantino que diz que estatísticas são o “ato de torturar números até que eles confessem qualquer coisa”. Ninguém acreditou naquela salada apresentada de forma apressada!

3 – Interessante o quanto a Ibravin faz questão de dizer que os produtores não têm nada a ver com a ação tomada e que isto foi orquestrado pelas entidades peticionárias. Chegaram a instruir produtores a não se manifestarem, mas estes não têm nada com isso! As entidades não são formadas por associados? Estes não são consultados pelas entidades, especialmente quando de um assunto tão sério?

4 – Orlando Rodrigues, diretor da importadora Premium, ressaltou o fato de que o Brasil é o dos poucos mercados, se não o único, em que não existe uma sistemática de distribuição pré-estabelecida. Aqui todo mundo vende para todo mundo, transformando clientes em concorrentes. Realmente algo a se repensar até em função da guerra fiscal que gera brechas e práticas comerciais desleais e predadoras inclusive no âmbito do comércio virtual.

5 – O mesmo Orlando informou que o setor, através de suas entidades, estaria apresentando uma proposta de reconciliação e discussão construtiva do caminhos do vinho no Brasil e se a Ibravin aceitaria recuar em seu pedido de Salvaguardas para discutir o tema no fórum adequado. Vejam aqui a Carta Aberta, item 9. Disse o Paviani, diretor geral da Ibravin, que ao recebê-la a analisaria, mas não senti firmeza não!

Vinhos Finos e a Similaridade de Produtos X Salvaguardas ao Vinho Nacional

Este tema será, certamente, um dos mais discutidos no âmbito do Ministério e cito um exemplo, sem qualquer desrespeito á história e importância da marca no âmbito nacional como uma porta de entrada á nossa vinosfera tupiniquim, mas é difícil, se não impossível, entender a validade das salvaguardas quando a Cooperativa Garibaldi diz querer dobrar sua participação em vinhos finos com a compra da Granja União! Ora, as salvaguardas não contemplarão a Argentina de onde vem a vasta maioria de vinhos de entrada de gama e maior concorrente da produção nacional e sim atingirão, do ponto de vista da circular, os “similares” vinhos da Borgonha, Bordeaux, Rioja e Douro. Em sã consciência, isso não faz o mínimo sentido!

Entrevista do Adriano Miolo à Revista Menu

A ibravin diz que consultou as víncolas, já o Adriano diz que a Miolo não foi! Quem se esqueceu do quê? O Adriano diz que falou com seus clientes, quais? Lojistas, restaurantes distribuidores? Sim, porque o consumidor, esse nunca recebeu nenhuma resposta, inclusive eu e pelo menos mais um dos leitores que já se manifestou aqui no blog sobre esse mesmo tema. Lavar as mãos e dizer que isso é coisa das entidades, é lamentável e traz uma percepção ao mercado (consumidores) que não condiz com a história da empresa e do empresário. Parafraseando  o conceituado jornalista Sardenberg da CBN, meteu o pé na jaca, uma pena!

Resumo da Ópera

O enófilo apreciador de vinhos finos de qualidade certamente pagará mais caro porém não deixará de tomar bons vinhos, sejam eles importados ou não, deixando as zurrapas de qualquer origem á margem.  Os grandes concorrentes da produção nacional são; os impostos locais e federais, a quem os salvaguardistas e seus defensores deveriam dirigir suas ações e seu forte lobby politico, os vinhos baratos da Argentina (que não serão atingidos por essas Salvaguardas) e do Chile, vinhos de origem duvidosa (se policiarem e controlarem as fronteiras reduzindo os estimados 40 milhões de litros de contrabando seria ótimo para todo o setor) não os vinhos da Borgonha, Bordeaux, Rioja ou Douro que as Salvaguardas atingirão diretamente. Aumento de vinho nacional por decreto é uma utopia tal que fica dificil entender e aceitar que ainda haja gente que nos dias de hoje ainda acredite nisso! Tem hora que penso que deve haver algo mais por trás desta estratégia adotada ao botarem o bode na sala, só não consegui ainda solucionar o inigma, pois ignorantes eles não me parecem ser!! As pessoas tomarão menos preservando a qualidade a que se habituaram ou migrarão para outras bebidas e toda essa zorra que armaram só trará prejuizos para o setor como um todo.

      Sou um ferrenho adversário das Salvaguardas como enófilo estudioso do vinho e do mercado, comerciante de vinhos e colunista que sou. Me sinto ultrajado, desrespeitado porque não buscam soluções de fato para os problemas do setor e sim formas absurdas e prepotentes de atingir a livre concorrência sem atacar os problemas essenciais, fazendo-nos de idiotas com suas explicações sem nexo para um ato absolutamente truculento e desnecessário. Sou a favor do vinho brasileiro, especialmente dos pequenos produtores que penam para levar o dia a dia num ambiente tributário inóspito, mas sou radicalmente contra a ganância, o oligopólio, a ditadura e truculência, a falta de democracia e transparência, a politização das entidades, o peleguismo, a Ibravin e restante das entidades peticionárias das Salvaguardas que não nos levarão a lugar nenhum como o Selo Fiscal não o fez!

      Amanhã Dicas da Semana e outros papos. Na Semana que vem voltarei a Falar de Vinho, porém não esquecerei as Salvaguardas não!  Aproveitando, a petição publica está chegando em 10.000 assinaturas e você, já assinou? Acesse o site e vamos em frente porque a luta continua. Salute e kanimambo.