Notas do Vinho. Um Mal Necessário?

       Já me manifestei em outras mídias sobre este tema, inclusive aqui, mas volto a este assunto devido a uma conversa de há poucos dias com um produtor estrangeiro sobre os senhores Robert Parker da vida. È, gente do porte de; Wine Enthusiast, Wine Spectator, Decanter, Stephen Tanzer, Penin e Jancis Robinson entre muitos outros formadores de opinião e críticos do vinhos. Certo ou errado, têm valor suas notas, ou não têm? Comprar baseado nisso? Na verdade quem lhes deu força e segue dando, são os próprios produtores, importadores e lojistas que viraram escravos e propagadores dessa cultura, ajudando a disseminar o fato que somente vinho bem pontuado é que é bom. Lamentavelmente, uma grande parte dos consumidores acaba caindo nessa armadilha de forma ingênua, falta de conhecimento ou até, muitas vezes, por puro esnobismo. Sabe, aquele que serve o vinho já falando quanto o vinho custou, especialmente se for caro, e quantos ponto ele tem?! Certamente você deve conhecer um enochato desses, pois abundam mais do que deveriam.

           Já comentei que essas notas são meras indicações de qualidade e os vinhos sem pontuação não devem ser descartados somente porque não possuem uma nota até porque, provavelmente, sequer passaram pelas taças de alguns desses “gurus” de nossa vinosfera. Por outro lado, um mesmo vinho avaliado por Robert Parker e Wine Spectator, de vertente americana, e Hugh Johnson, Tanzer, Decanter e Jancis Robinson, de vertente europeia, serão bem distintas devido a culturas, parâmetros e paladares diferenciados. Já cansei de provar vinhos super pontuados e me desapontar muitíssimo. De alguns efetivamente não gostei e de outros não consegui entender onde os conceituados críticos encontraram tanto fulgor!

         Caras como Jay Miller, degustador mor do Robert Parker para vinhos sul americanos e espanhóis, por exemplo, dá nota 90 e acima para quase qualquer coisa. Como costumo dizer, para ele água com gás argentina deve pelo menos alcançar seus 91 pontos! Com essa filosofia, a meu ver, ele torna todo o sistema de pontuação sob suspeita pois 90 pontos ou mais se tornam algo corriqueiro ou seja, a total banalização do sistema. Pessoalmente acho que a pontuação, agora falando como lojista, ajuda em rótulos menos conhecidos do grande publico pois é mais uma indicação de qualidade afora o “papo” do vendedor seja ele quem for.

          Por outro lado, com a enormidade de rótulos disponíveis no mercado e impossibilidade de conhecê-los a todos, essas avaliações podem sim nos ajudar a separar o joio do trigo. A prova final no entanto, a verdadeira nota, esta está no palato de quem toma o vinho e, especialmente, de quem paga por ele já que aí também se poderá formular opinião de valor ou seja, se o vinho vale o que se pagou por ele. O resto são meros subterfúgios mercadológicos que nem sempre condizem com a realidade encontrada na taça. Não que não lhes reconheça valor, a uns mais que outros, mas há que se considerar estas “avaliações” com uma certa parcimônia e como aquilo que elas são, meras indicações de qualidade especialmente quando diversos críticos de diversas origens convergem para um mesmo resultado. Quanto vale a nota para você? Como diz o Didu, de cima de seus muitos anos de experiência, o crítico deu 98 pontos e você, quanto dá?

       Amanhã conto que vinho foi aquele na minha taça. Salute, kanimambo e seguimos nos vendo por aqui.