Grande Desafio de Espumantes – os Brasileiros

           Não é de agora que os espumantes brasileiros são bons, mas faz um pouco mais de três para quatro anos que a mídia e os produtores iniciaram um trabalho mais forte de divulgação. Contrariamente aos vinhos tranqüilos onde a produção nacional, apesar da grande melhora de qualidade, perdeu espaço no mercado desde 2005 para os importados, no segmento de espumantes o inverso acontece com um crescimento de participação porcentual do mercado de cerca de 64% em 2004 para 75% em 2009. Somente neste ano o crescimento de vendas atingiu 14% sendo no Moscatel onde essa média é mais alta, cerca de 22%. Daí a começarmos a falar que o Brasil se tornou um dos três melhores produtores do mundo e que em alguns casos até champagne bate, num afã nacionalista muito típico nosso, não demorou muito. Minha avaliação geral é que, sim nos Moscatel estamos muito bem e entre os melhores do mundo, mas nos Rosés e Brancos apesar dos bons rótulos produzidos, ainda temos muito a crescer, inclusive no quesito regularidade.

          Deixo claro que é uma opinião particular, compartilhe ou jogue pedra quem quiser, mas acho que afora os investimentos necessários no vinhedo e na produção, um dos principais problemas para nos tornarmos realmente membros da elite dos espumantes é a falta de constância. Isto pelo que tenho observado nos últimos quatro para cinco anos, com algumas poucas exceções. Ainda é muito comum um determinado produtor estourar na mídia e na critica num determinado ano e no outro ficar bem aquém. Precisamos tempo para poder demonstrar nossa qualidade, humildade para seguir trabalhando na melhoria, constância de qualidade e um maior intercâmbio com o mercado e produtores internacionais. Temos muito bons espumantes, alguns até ótimos, bons preços, mas mantenhamos os pés na terra e deixo o forum aberto para comentários.

          Pessoalmente gosto muito dos nossos espumantes que trazem um frescor e uma característica cítrica muito interessantes que, a meu ver, são muito a cara do Brasil. Por isso convidei alguns dos principais produtores nacionais tendo o Brasil representado  cerca de 36% dos rótulos em prova com quinze espumantes que, só para relembrar, listo agora com menção do método de elaboração usado: Miolo Millésime Brut – R$75 (tradicional), Salton Evidence  Brut– R$65 (tradicional), Chandon Excellence Brut – R$90 (charmat), Marson Brut– R$59 (tradicional), .Nero Gran Reserva Extra Brut – R$45 (charmat longo), Valduga Gran Reserva Extra Brut 2004 – R$90 (tradicional), Cave Geisse Nature 2007 – R$45 (tradicional),Pizzato Brut – R$45 (tradicional), Dal Pizzol Brut – R$45 (tradicional), Do Lugar – R$32 (charmat), Don Giovanni Ouro – R$75 (tradicional), Marco Luigi Reserva da Família Brut – R$30 (tradicional), Villaggio Grando /SC – R$40 (charmat), Valduga 130 Brut – R$65 (tradicional) e Don Giovanni Nature – R$50 (tradicional). Destes, os que mais se destacaram na prova foram, por ordem de classificação, os que seguem:

1º Chandon Excellence Cuvée Prestige – Um senhor espumante que consegue juntar o frescor e característica cítrica dos espumantes nacionais com a complexidade dos franceses, não fosse a casa produtora originária de lá. Este não peca pela ausência de constância e a cada vez que o provo ele se mantém neste alto nível. Perlage muito boa, fina e abundante, mostrando que o método charmat pode sim gerar espumantes muito elegantes, formando um colar de espuma atraente na taça. Mineral bem presente, cítrico invocando laranja confitada, algo de fermento e brioche com nuances tostadas compõem uma paleta olfativa bastante complexa e delicada.  Já na boca é cremoso, gostosa textura, um produto de muita qualidade que seduz os mais exigentes e termina muito fresco com algo de frutas secas e novamente aquela presença gostosa de notas minerais.

2º Marson Brut – Uma grata surpresa de um espumante bastante tradicional no mercado que mostra uma perlage bastante fina e de boa persistência. No mais, talvez o mais exótico de todos com presença de frutas tropicais maduras como abacaxi e banana combinadas com um frescor imenso, fruto da ótima acidez muito bem balanceada formando um conjunto que satisfaz sobremaneira deixando na boca um gostinho de quero mais. Leve, gostoso, um final bem frutado e de boa persistência que abre o apetite.

3º Miolo Millésime Brut 2006 – Top dos espumantes da Miolo, é um pouco pálido na cor, mostrando-se ao nariz com aromas mais presentes de levedura e algo cítrico com nuances de amêndoas torradas. Na boca apresenta maior corpo, enche mais a boca e a cremosidade advinda de uma espuma abundante invade a boca com muito frescor. Perlage de tamanho médio, abundante e de boa persistência. Na boca é equilibrado, saboroso, um espumante que nos seduz facilmente e que já é boa companhia para uma refeição.

4º Salton Evidence Brut – Nariz citrino com nuances de flores brancas, tudo muito sutil e delicado convidando a levar a taça á boca. Na boca é fino, equilibrado, bom colar de espuma, muito boa perlage, fina, regular e consistente que nos massageia a boca com pequenas agulhas e mostra nuances tostadas, algo de padaria e bem mineral com um final onde desponta algo de maçã verde e muito boa acidez.

5º .Nero Extra Brut –  Elaborado pelo método charmat longo de seis meses que resulta num número considerável de bolhinhas bem finas e persistentes, muito cítrico e fresco numa boca gulosa, franca sem grande complexidade, mas muito saboroso que nos faz pedir mais uma taça, e outra, e outra … Prima pela finesse, final elegante, vibrante com toques de maracujá. Entre os Brasileiros, foi considerado o Melhor Custo x Beneficio

6º Cave Geisse Nature 2007 –  Aromas muito agradáveis, com um leve brioche intermediado por algo cítrico, nuances doces (mel) e toques florais muito sutis e elegantes. Na boca é cremoso, acidez maravilhosa que aporta um incrível frescor, balanceado, final muito saboroso, delicado com notas minerais e muito longo. Um espumante muito fino e sedutor tendo apresentado um leve amargor final que não chegou a incomodar.

          Todos espumantes que fazem juz aos comentários positivos da mídia especializada, ou seja sem grandes surpresas, que eu compraria sem exitar pois me agradaram muitíssimo. Na sequência os outros nove desafiantes: Valduga 130 / Pizzato Brut / Marco Luigi Reserva da Família Brut 2008 / Do Lugar Brut / Dal Pizzol Brut / Villaggio Grando (recém lançado nem rótulo tinha ainda, sendo a primeira prova dele) / Don Giovanni Brut Ouro / Valduga Extra Brut Gran Reserva 2004 e Don Giovanni Nature que compuseram um nível de qualidade bastante alto.

         Em Fevereiro deverei ir a Portugal e quero armar, com alguns amigos blogueiros de lá,  um Desafio Luso-Brasileiro de Espumantes durante minha estadia. Serão oito rótulos (os TOP 6 acima mais dois convidados) versus sete portugueses, meu primeiro Desafio Internacional. Bem, por hoje é só, na sequência outros posts sobre esta deliciosa maratona de espumantes que, neste quente verão, são um must! Nada de ficar esperando ocasiões especiais, abra um espumante e faça o momento especial. Quer coisa mais chique do que naquele encontro com os amigos abrir um espumante de boas-vindas? Melhor, não precisa nem gastar muito para isso!

Salute, abraço e kanimambo.