O Vinho e Seus Prazere$$$

luis-fernandoO amigo médico, degustador oficial dos Desafios de Vinho deste blog e enófilo dedicado, Dr. Luis Fernando Leite de Barros, escreveu esta pérola que tem que ser publicada. Leiam sua aguçada e inteligente crônica.

 

 Na interminável discussão custo-benefício em relação ao vinho, quase sempre concluímos que o importante é o prazer que ele irá nos proporcionar. Mas, para confundir um pouquinho mais nosso cérebro, sempre tem gente inventando pesquisas para confrontar vinhos bons com ruins, caros com baratos, bem com mal avaliados pelos críticos e as combinações entre eles para chegar a conclusões de quanto vale determinado vinho ou quanto desembolsaríamos por ele.

Um enólogo americano chamado Robin Goldstein, formado em Filosofia por Harvard e com doutorado em Direito por Yale é um que adora colocar “lenha na fogueira”. Para quem se lembra, foi ele quem criou um restaurante imaginário, chamou de Osteria L’Intrepido e submeteu sua fictícia carta de vinhos à avaliação da The Wine Spectator, incluindo nela diversos vinhos caros e muito mal avaliados pela própria revista e sendo premiada mesmo sem nunca ter existido. Este mesmo Goldstein, a fim de importunar os críticos especializados realizou degustações às cegas com 500 voluntários, leigos e especialistas, e submeteu à prova 540 garrafas de vinhos. Seus resultados foram polêmicos: um espumante americano de U$ 10,00 desbancou o renomado champagne francês Don Pérignon de U$ 150,00. E um Cabernet de Napa Valley de U$ 55,00 foi derrotado por um vinho popular de apenas U$ 2,00! Suas experiências foram publicadas pela Associação de Economistas do Vinho dos Estados Unidos e até virou livro (The Wine Trials).

Por outro lado, um estudo científico coordenado pelo professor Antonio Rangel do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), submeteu 20 indivíduos a uma inusitada experiência. Enquanto eles provavam 5 Cabernet Sauvignon supostamente diferentes, seus cérebros eram monitorados por exames de Ressonância Magnética. Mas, na realidade, eles bebiam sempre o mesmo vinho, porém, achavam que estavam provando vinhos de diferentes níveis de preço, que variavam entre U$ 5,00 e U$ 90,00. Os resultados foram muito interessantes, pois quando bebiam o vinho pensando se tratar do mais caro os indivíduos apresentavam maior atividade em uma região cerebral chamada de córtex órbito-frontal médio, relacionada ao prazer. Ou seja, quando provamos um vinho sabendo que ele custa caro, a sensação de prazer será maior do que se tomássemos o mesmo vinho pensando que ele custou pouco. E não é um “engano” do nosso cérebro, ele está fisicamente sendo estimulado a proporcionar mais prazer!

Portanto, após informações conflitantes como essas, nosso pobre cérebro deve estar se perguntando: “Na busca do prazer, devo beber um bom vinho, independente de ele ser barato ou um vinho caro, independente de ele ser ruim”?!