Marqués de Murrieta, Rioja na Veia.

Bem, confesso, sou suspeito para falar, porque é um dos meus produtores preferidos já tendo elogiado bastante o Reserva 2002, a tal ponto que no dia dos pais, recebi uma garrafa de presente. Estupendo vinho com preço bastante acessível. Pois bem, agora conheci um pouco mais da história por trás do vinho, provei outros vinhos e minha admiração só cresceu. Dos clássicos Riojas, agora só me falta conhecer os vinhos da Tondonia que o amigo Luiz Horta tanto curte. Ainda chego lá!

O atual gestor é o Conde Vicente Dalmau Cebrián-Sagarriga y Suarez-Llanos, nome pomposo para uma pessoa extremamente agradável e destemida. Em 1983 a empresa com mais de 160 anos de história passava por dificuldades, tendo sido comprada pelo pai de Vicente, que faleceu precocemente aos 47 anos, tendo a empresa caído no colo dele que, nesse momento tinha parcos 24 anos. Após um curto tempo de estudo e análise, optou por revolucionar a empresa, nomeou como enóloga chefe Maria Vargas, também uma jovem de 25 ou 26 anos, trocaram gente, investiram e conseguiram, quando todos achavam o contrário, transformar o conceito do clássico sem perder as raízes e essência de Murrieta construída ao longo de mais de século e meio de história. Tinha tudo para dar errado, mas deu foi muito certo! Investiram mais de USD70 milhões nessa revolução de gente e vinhedos, e os vinhos estão aí para mostrar o acerto do projeto. São somente cinco vinhos que buscam, não só qualidade, mas especialmente personalidade com uma produção total de cerca de um milhão e quatrocentas mil garrafas produzidas. Os vinhos são de importação e distribuição exclusiva da Expand, de quem partiu o amável convite para conhecer estes belos vinhos. Falemos então dos vinhos degustados.

Fora da Rioja, em Rias Baixas na Galicia, com produção de somente 10.000 caixas anuais, vem o Palácio de Barrantes 2006, um Albariño de primeiro nível. Vindimado à mão, cinco meses em tanques de inox e três em garrafa, abriu muito bem na taça exalando gostosos aromas de frutas secas. Na boca é cremoso, denso, boa estrutura, untuoso e muito bem balanceado com um final de boca de boa persistência. Um belo vinho, de bom frescor que agrada sobremaneira e está nas lojas da Expand por R$120,00.

Uma vez um enólogo Português me confidenciou que, sua fama tinha sido construída de forma muito eficaz, em cima de um parâmetro básico, somente produzir grandes vinhos de restrita quantidade. Posteriormente um outro, desta feita francês, também me deixou claro que elaborar grandes vinhos em quantidades limitadas é relativamente simples se a matéria prima for boa. Não entendo disso, mas entendo de lógica e a colocação faz todo o sentido. Quanto maior o volume de produção, mais difícil será manter os níveis de qualidade. Pois bem, dos um milhão e quatrocentas mil garrafas de produção anual, cerca de 1 milhão e trezentos mil são de um só vinho o Marqués de Murrieta Reserva, e que vinho! O de 2002 que era o que conhecia, é um estupendo vinho e um excelente custo beneficio já que o preço anda ao redor de R$128,00. Incrível fazer um vinho desta qualidade numa safra tão ruim como a de 2002 na Espanha (na Itália também) e em tamanha quantidade, porém o vinho é divino demonstrando a enorme capacidade da bodega e sua gente. Este Marqués de Murrieta Reserva 2004, conseguiu superar o 2002 inclusive pelo fato de que foi uma grande safra na Espanha. Um corte de 91% de tempranillo, 3% mazuelo e 6% garnacha vindo de parcelas do vinhedo com idade média de 36 anos. Especiado, levemente amadeirado, na boca é sedoso, rico em sabores, complexo, muito elegante, ótima textura e incrível final de boca de longa persistência. Um grande vinho por um preço realmente convidativo.

Castillo Ygay 2000 Gran Reserva, as jóias da coroa, o top de linha desta bodega elaborado com 87% de tempranillo e 13% de mazuelo, que nos chega agora depois de 3 anos de barrica e 4 anos de garrafa. Nariz muito intenso, fruta confitada e evoluída mostrando aromas complexos meio oxidados típicos destes grandes Riojas clássicos. Taninos finos, aveludados, uma entrada de boca impactante que termina muito longo e marcante. Um vinho clássico, de muita personalidade, com uma produção anual de apenas umas 80 mil garrafas, que está nas lojas por cerca de R$330,00.

Para finalizar um outro branco, desta vez o Capellania Reserva Blanco 2003, só que este é uma outra história e bem que tinha estranhado que tivessem deixado este vinho para o final. É um branco muito diferenciado, muito bom, porém não muito fácil de beber. A principio, um vinho para paladares experientes, pois é um vinho branco de grande complexidade, algo resinoso, untuoso, denso, de grande estrutura, muito rico de aromas algo oxidados lembrando jerez. O Vicente sugeriu tomá-lo com um prato de rabada, e achei muito interessante, deve ser uma harmonização maravilhosa. Produzido com a uva Viura, de difícil trato, meio insípida quando jovem, mas que quando estagia em carvalho cresce muito, ganhando grande complexidade e, neste caso, são 9 meses em carvalho americano e 9 em francês num mix de barricas novas e usadas. Um vinho complexo, difícil e muito saboroso de se tomar, especialmente com comida. Na Expand por R$115,00.

Todos excelentes vinhos, mas a meu ver, certamente o Marqués de Murrieta Reserva guarda a melhor relação Qualidade x Preço x Prazer e o 2004 realmente imperdível!

Salute e kanimambo.