Ochotierras Chegou!

Ochotierras, nome alusivo às oito colinas e campos da região de Limarí no norte do Chile, onde a vinícola se instalou há cerca de uma década tendo, a primeira colheita sido realizada em 2005. A região de Coquimbo no Vale do Limarí, onde a vinícola está situada, é uma zona semi-árida com um clima privilegiado com ausência de chuvas na época da colheita, temperaturas amenas com média de 28º, alta luminosidade e solos pobres, características perfeitas para obter uvas de qualidade e gerar belos vinhos. A água, um problema, é coletada do degelo da cordilheira Andina. Eles estavam presentes no evento da ProChile, mas não os visitei já que tínhamos agendado uma degustação específica no dia seguinte.

Na verdade, estes eventos de degustação, ou feiras, qualquer que seja o nome que se queira chamá-las, são ótimos para nos dar uma vaga idéia dos vinhos provados e conhecer as linhas completas dos produtores presentes, ou pelo menos aqueles que conseguimos visitar. Não, não estou cuspindo na taça que bebi, os eventos são válidos e os prezo muito, mas é numa degustação específica e harmonizada, que realmente conseguimos conhecer o que o produtor se dispõe a fazer, quais são seus planos e como, realmente são seus vinhos. Felizmente, a BrasArt, jovem importador exclusivo da vinícola, teve a grande idéia de convidar alguns enófilos e jornalistas para um bate-papo e degustação de seus vinhos num lugar que só vem a acrescentar qualidade aos vinhos, na Praça São Lourenço em São Paulo. Local lindíssimo e um oásis/restaurante tranqüilo e simpático em plena paulicéia, cada vez mais, desvairada. O melhor do local, é que no almoço é servido um enorme, diverso e super saboroso buffet o que possibilita que “brinquemos de harmonizar” os vinhos, levando aos píncaros essa experiência.

Mas, voltemos a falar da vinícola que, a principio, nos traz somente varietais de cepas produzidas em seus três vinhedos com 75 hectares, dos quais cerca de 35 plantados. Os varietais básicos que são vinhos mais jovens, de concentração média e fáceis de beber; os reservas que já passam um tempo maior em carvalho, são de maior estrutura, elegância e concentração mostrando toda atipicidade do vale; e finalmente os Gran Reservas, pura expressividade do terroir do Vale do Limarí com pelo menos 12 meses de barricas de carvalho e mais uns seis meses de adega após engarrafamento. Vejamos os vinhos que, a meu ver e para o meu gosto, mais se destacaram;

Dentro os brancos, Sauvignon Blanc e Chardonnay, o que mais me impressionou e me cativou, foi o Chardonnay 07 que passa levemente pela madeira para ressaltar a fruta. É um vinho de cor palha claro, límpido, de boa tipicidade e sutileza aromática. Na boca invoca as frutas cítricas, é fino, mineral, sedutor e, apesar de um teor de álcool alto, está perfeitamente equilibrado com ótima acidez resultando num vinho bastante fresco e fácil de tomar. Um delicioso branco para o da-a-dia extremamente bem posicionado no preço que agrada e satisfaz por meros R$22 a 25,00. Um verdadeiro achado que acompanhou muito bem, uma salada à base de kani. Certamente será presença constante na minha mesa.

Dos tintos, provamos a linha Reserva com três varietais; Cabernet Sauvignon, Syrah e Carmenére e, na linha de Gran Reservas os varietais de Carmenére e Syrah. No buffet, peguei três carnes para harmonizar com os vinhos; um pernil com molho de laranja, um medalhão de filé com molho de gorgonzola e um galeto com ervas.

  • Cabernet Sauvignon Reserva 2006 com 13.5º, está absolutamente redondo e pronto a tomar.No nariz se sente boa fruta madura com nuances florais, enquanto na boca apresenta taninos doces e sedosos, algo achocolatado, absolutamente elegante e fino com um final de boca longo e levemente especiado. É um Cabernet diferenciado, suave no palato e cativante. A principio, escolhi o galeto para harmonizar com este vinho e até que ficou bastante saboroso. Foi com o suave pernil na laranja, todavia, que o vinho, e o prato, demonstraram todo o seu potencial numa combinação divina. Um vinho muito agradável, fácil de harmonizar por um excelente preço de cerca de R$42,00, uma pechincha e mais um que irá freqüentar minha mesa com uma certa assiduidade.
  • Carmenére Reserva 2006 com 13.5º, ao contrário de muitos Carmenéres que tendem para aromas e sabores muito vegetais que, a meu ver, incomodam e demonstram uma certa agressividade, este é absolutamente frutal, amável e saboroso. Um Carmenére de primeira, de grande harmonia e aveludado na boca, para balançar quem não é chegado nos vinhos desta cepa. Acompanhou bem o pernil com molho de laranja. Gostei muito, preço R$ 53,00 somente disponível na BR Bebidas.
  • Syrah Reserva 2007 também com 13.5º,  possui um nariz mais intenso, muita fruta vermelha, algo de especiarias, corpo médio, carnoso, boa concentração, cremoso e muito saboroso. Por ser um pouco mais novo, seus taninos ainda se encontram mais presentes, porém são finos e elegantes sem qualquer agressividade, já está bom, mas promete melhorar com algum tempo mais de garrafa. Harmonizou muito bem com o medalhão de filé mignon. Preço sugerido R$42,00
  • Gran Reserva Carmenére 2005 com 14,8º absolutamente equilibrado. Um belo vinho, num degrau bem acima dos outros. Eu, que não sou fã desta cepa, tenho que reconhecer que este está maravilhoso e, a meu ver, o melhor vinho de todos eles. Os Gran Reservas são da primeira colheita realizada pela vinícola, então a previsão é de que teremos ainda melhores vinhos nos próximos anos. Este, está com uma paleta olfativa cativante de ótima intensidade, na boca é de grande elegância (aliás uma característica de toda a linha), muito harmônico com ótima acidez o que lhe dá uma vivacidade muito interessante, um leve apimentado final de boca com boa persistência. Encantou-me e achei um senhor vinho, talvez o melhor Carmenére que já tomei, tendo harmonizado muito bem tanto com o pernil, quanto com o medalhão de filé. Um vinho sem arestas, de quantidades limitadas, que deixa lembranças muito prazerosas. Preço de R$105,00 e somente disponível na BR Bebidas.
  • Gran Reserva Syrah 2005 é um vinho bem mais concentrado e potente com mais de 15º de teor alcoólico, com taninos finos e aveludados ainda por amaciar. O nariz é de boa intensidade em que aparecem notas de frutas vermelhas e negras.  Na boca está bastante harmônico, necessitando de um tempo em taça para mostrar todas as suas virtudes, final de boca em que aparecem as especiarias típicas da casta. Mais uma comprovação de que o Chile é hoje um grande produtor de bons vinhos elaborados com esta casta, tendo este, harmonizado muito bem com o medalhão de filé. Preço ao consumidor de aproximados R$110,00.

      Fritar dos ovos, ou melhor, final de taças porque não sobrou nada, é de que estamos frente a frente com um produtor novo com um terroir especial que está produzindo ótimos vinhos que chegam por preços muito competitivos em todas as faixas de qualidade. Há que se acompanhar, mas eu fiquei muito satisfeito com o que provei, e recomendo aos amigos comprar e apreciar estes vinhos. A BR Bebidas, nosso parceiro, é um dos locais onde seus vinhos podem ser encontrados já tendo, inclusive, dado destaque a estes rótulos no último Boas Compras de Agosto. Em Sampa podem ser encontrados também nos supermercados Empório São Paulo, no Varanda Frutas e na Galeria dos Pães. Cheque endereços e contatos em nossa seção “Onde Comprar” ou chame o pessoal da BrasArt (11-5575.8725) que certamente lhe indicará um local mais próximo de você. Ah, ia-me esquecendo, indo almoçar na Praça São Lourenço, não deixe de pedir um, ou mais, desses vinhos para acompanhar as delicías gastronômicas do lugar. Estes rótulos, ou parte deles, já constam da carta.

Salute e kanimambo.