Região Vinícola de Bordeaux – I

                Au Bord de L’eau (à beira d’água) é a origem do nome desta importante região produtora, não só francesa, mas mundial. Alguns dos vinhos mais importantes e caros do mundo, verdadeiros ícones de nossa vinosfera. Se puder bancá-los, ótimo fico feliz por você e, se der, pode me convidar para uma taça que eu, até por uma questão de educação, não recusarei! rsrs Os melhores Bordeauxs, todavia, estão fora do alcance da maioria de nós pobres mortais. Apesar disso, alguns bons vinhos estão disponíveis por preços razoáveis, o que nos permite, vez ou outra, fazer uma estripulia sem atrapalhar demasiadamente o orçamento. Alguns importadores como Expand, Mistral, Zahil, Wine Premium, Vinci, De la Croix, Decanter e Nova Fazendinha (RJ), entre outros, possuem um vasto catálogo com produtos muito interessantes. Alguns poucos rótulos desses estarão na seção Tomei e Recomendo, mas agora vamos conhecer um pouco da região de Bordeaux e seus segredos.

               A região, uma das principais da França junto com a Borgonha (Bourgogne) e Champagne, tem grande reconhecimento tanto nacional como internacional. Ela se divide em duas principais sub-regiões situadas, uma à margem esquerda do Estuário de Gironde e a outra à sua margem direita. No Estuário de Gironde desembocam dois rios, Dordogne e Garonne, criando entre eles, uma terceira sub-região menos conceituada, chamada Entre-deux-Mers. Esta posição geográfica fica muito clara no mapa abaixo e este conhecimento nos ajuda muitíssimo na escolha dos vinhos a comprar.

   

             Porquê da importância de saber a localização geográfica na escolha do vinho? A resposta vem da regulamentação de AOC que o INAO (Institut National des Appellations d’Origine) instituiu e que não permite que no contra rótulo sejam mencionadas as cepas usadas no corte, algo da tradição vinícola da região. Só que, dependendo da margem de onde é elaborado, o vinho apresenta características bem diferentes. Do lado esquerdo do rio, a casta dominante é sempre a Cabernet Sauvignon e do lado direito é Merlot. O corte baseado nessa composição de cepas, isto a grosso modo porque existem inúmeras variáveis que podem mudar esta afirmação, indica que os vinhos do lado esquerdo deverão ter uma tanicidade e estrutura maiores, resultando em vinhos mais encorpados e de maior longevidade, do que os vinhos da margem direita. Sem indicação do corte ou localização, fica dífícil descobrir o que estamos comprando, então a única opção é decorar as AOCs por margem!

              Para complicar um pouco mais, cada AOC, tem sua própria classificação ou primam pela ausência de uma. Cada AOC regional, como por exemplo, o Médoc, possui várias outras AOC comunais, ou seja especificas dentro da região, total disto tudo? “Só” 57 AOCs com cerca de 7000 produtores (Chateaus) e 13000 vinhedos com, pelos meus cálculos, pelo menos uns 35 a 40.000 rótulos.  Acha que isto está ficando difícil, não é? Pois relaxa que tem mais, tem a complicação dos nomes dados aos vinhos. Por exemplo, só de Belair e suas variáveis tipo; Bel Air, Bel-Air, Bellair, são quase quinze! Mas existem muitos outros casos como; Chateau Latour e o La Tour, Cânon Langue e Cânon Moueix ou Cânon-Fronsac, Haut-Brion e Haut Badon e Bellegrave com Belles-Graves. É aquela história, para que facilitar se podemos complicar! Para o apreciador de vinhos comum, isto pode parecer muito complicado, e é! Aqui há que se guardar nome, sobrenome e região do rótulo desejado, pois o risco é grande de comprar algo bem diferente do que você buscava. Recentemente estive conversando com uns produtores da região, e eles mesmo afirmaram que a grande maioria dos Franceses desconhece tudo isso também. O que vale lá é o gosto e a marca. Gostou, registre a marca (Rótulo/Produtor/Região) na memória e pronto. De qualquer forma, acho que temos que tentar reduzir riscos de compra o máximo possível, então vou tentar simplificar este emaranhado de informações com algumas dicas que talvez possam ajudar na hora de sua escolha:

  • Lista das principais AOCs por margem do Estuário de Gironde. Manter mapa na carteira. rsrsrs
  • Entre-deux-Mers (entre dois mares) é uma AOC somente de vinhos brancos. Todos os tintos produzidos nesta região deverão ser classificados somente como AOC Bordeaux ou, eventualmente, AOC Bordeaux Superieur se atenderem á regulamentação especifica.
  • Sauterne e Barsac são AOCs especificamente de vinhos brancos doces, de onde saem os melhores néctares do mundo nesta categoria.
  • Lembrar que, “Gran Vin de Bordeaux”, não que dizer absolutamente nada. Exceção feita ao Chateau Petrus (AOC Pomerol), que estampa em seu rótulo “Gran Vin”. Nada a ver com classificação, todavia, e sim com o fato de que ele é, efetivamente, un “GRAAAAN VIN”! 
  • Preferir vinhos com a inscrição “Mis em Bouteille aux Chateau”, que significa que o vinho foi engarrafado na origem, na vinícola. Apesar de existirem “negociants” (compram uvas e elaboram vinhos) sérios e com boa qualidade, alguns até possuindo vinhedos, o fato de o próprio vinicultor engarrafar, traz sempre um pouco mais de segurança.
  • Lembrar que AOCs e Classificações, não são, necessariamente, sinônimo de qualidade, mas sim indicações.
  • Vinhos com classificação Bordeaux Superieur, e acima, são vinhos que, normalmente, necessitam de um pouco mais de tempo em garrafa para o amadurecimento de seus taninos. Prefira este vinhos com quatro ou cinco anos de vida, para os grandes vinhos pelo menos de oito a dez, pois certamente você tomará um vinho mais equilibrado e elegante com menor adstringência e maior  complexidade de  aromas e sabores. Se for abrir antes disso, dê uma decantada de pelo menos uns 30 a 45 minutos, pois o vinho se beneficiará muito com isso.
  • Por estas bandas, não se aventure, especialmente nos mais caros, sem alguma indicação, o tombo pode ser grande.

As principais classificações existententes veremos nesta Quarta, em novo post. Este já está ficando longo demais! Na Sexta, mais dicas de vinhos que Tomei e Recomendo e, na semana que vem, o inicio dos destaques de nossos parceiros em Boas Compras. Salute e kanimambo.