Argentina – Regiões & Uvas

               Retomando a sequência de análise do universo dos vinhos por país, falaremos um pouco da produção de vinhos na Argentina e, em separado em Tomei e Recomendo, sugestões de algumas boas opções desses vinhos que provei e aprovei. Na sequência, virá um post com as Boas Compras de vinhos Argentinos, um projeto em conjunto com diversas lojas. Tudo durante esta semana de 10 a 17 de Fevereiro.

                 Estamos diante de um claro exemplo de que a necessidade é a mãe da invenção. Quinto maior produtor mundial, a Argentina até 1990, tinha um consumo interno per capita anual, ao redor de algo como 90 litros estando hoje, por volta de 32 litros. O consumo, todavia, segue sendo um dos maiores, se não o maior, per capita fora da Europa. Esse alto consumo sem qualquer exigência de qualidade resultava em vinhos de baixa qualidade a preços baixos. Com a crise que atingiu o país, as vendas despencaram e os produtores se viram forçados a buscar o mercado internacional que tinha um outro nível de exigência. Somente após este momento, é que a Argentina realmente iniciou um projeto de desenvolvimento sustentável, de longo prazo, na industria de vinhos finos e os vinhos ganharam qualidade. Com muito investimento local, e especialmente internacional, a industria galgou degraus rapidamente em uma verdadeira revolução vinícola, com importante participação de Catena Zapata, produzindo vinho com boa qualidade média a preços competitivos. Neste sentido, a principal região vinícola do País, Mendoza, se tornou uma Babel com enorme participação de produtores e capital Francês, Espanhol, Chileno, Português, Americano, Holandês, Italiano, Americano e Austríaco.

             Suas exportações aumentaram em mais de 20 vezes e está, hoje, disputando palmo a palmo com o Chile, a primazia de ser o maior exportador de vinhos para o Brasil, disponibilizando produtos de todo o tipo, qualidade e preço. Em 1992, somente 1% da produção era exportada enquanto hoje esse porcentual está beirando os 20 a 23%. São vinhos, fundamentalmente, produzidos em altas altitudes, acima de 850 metros até 2000 metros, em regiões quentes e semi-árida com pouquíssima chuva (quase desértica) com irrigação sendo efetuada com águas captadas nos Andes. Estas características geram vinhos com tendência a grande concentração de fruta, alto teor alcoólico e baixa acidez, provocando em muitos casos, a necessidade de acidificação do vinho. Com o decorrer do tempo e necessidade de buscar novas terras com preços mais baixos e estudo de terroirs para determinados tipos de cepas, as fronteiras de Mendoza foram ultrapassadas e hoje se produzem vinhos de ótima qualidade em diversas outras regiões da Argentina, com uma diversidade de altitudes e climas como, por exemplo, na Patagônia.

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Principais regiões de produção de vinhos finos:

  • Mendoza, com os principais distritos sendo – Lugan de Cuyo (sub-regiões de Agrelo/Pedriel e Vistalba), Maipu, San Rafael e Vale do Uco (sub-regiões deTupungato e San Carlos). Responsável por cerca de 65% (já foi 80%) de todo o vinho produzido na Argentina e 80% de tudo o que é exportado.
  • Salta, com destaque para a sub-região de Cafayate e de vinhedos plantados em alturas muito altas, acima de 1.600 metros.
  • San Juan
  • La Rioja
  • Patagônia com destaque para as sub-regiões de Neuquen e Rio Negro, região mais Austral do mundo produzindo vinhos. É daqui que estão saindo alguns dos melhores vinhos elaborados com as uvas Pinot Noir e Sauvignon Blanc, cepas que gostam do frio.

Principais uvas:

  • Brancas: Chardonnay, Torrontés com especial ênfase nas regiões de Salta e La Rioja, Chenin Blanc e Sauvignon Blanc.
  • Tintas: Malbec, Cabernet Sauvignon, Merlot, Tempranillo, Bonarda e, em uma menor participação mas em evolução, Pinot Noir e Syrah.

                A Malbec é a mais emblemática das cepas Argentinas e originária da região de Bordeaux na França onde, fundamentalmente, é usada como assemblage (corte) na elaboração de vinhos de grande categoria e reconhecimento internacional. Aqui, ela superou suas origens e ganhou caráter e personalidade próprias, sendo muito usada como varietal e como corte em grandes vinhos. Geram vinhos de grande concentração de frutas, acidez moderada e taninos aveludados. No entanto, não é só de Malbec que se faz a reputação dos vinhos Argentinos. O Cabernet Sauvignon tem lugar de destaque, a Tempranillo se acomodou muito bem na região e já produz vinhos muito bons, sem contar a Bonarda que começa a produzir vinhos de excelente qualidade. A Merlot ainda tem poucos rótulos de qualidade e a Pinot Noir e Syrah começam a produzir vinhos de qualidade em várias faixas de preço. Nos brancos; a Torrontés gera vinhos excelentes nas regiões de Salta e La Rioja, a Chardonnay gera vários bons vinhos dignos de serem provados enquanto que, a Sauvignon Blanc, só agora começa a mostrar produtos de qualidade, em sua maioria produzidos nas regiões mais frias. São um total de cerca de 1200 vinícolas das quais, aproximadamente, 900 situadas na região de Mendoza.

                Na minha opinião, até em função das benesses tarifárias do Mercosul, é daqui que sai o real vinho do dia-a-dia. Vem muita coisa ruim de baixo preço, mas deixe de lado o preconceito de que vinho barato é ruim e, surpreenda-se. Existem boas exceções à regra e podem-se tomar vinhos bem razoáveis, bem feitos e agradáveis, já a partir de R$13,00 dependendo do local de compra. Em Tomei e Recomendo, post em separado a ser publicado concomitantemente com a distribuição do jornal por volta de dia 15, listo algumas dessas boas opções pessoalmente testadas e aprovadas. São vinhos de boa, para muito boa qualidade, em sua faixa de preço especifica e rótulos que, não só provei, como voltei a comprar e tomar.  Com grande diversidade de cepas, cortes e varietais a oferecer, sem duvida alguma, os vinhos da Argentina, assim como os Portugueses, são os que entregam o melhor custo X beneficio e nos fornecem os verdadeiros vinhos do dia-a-dia, mas vão além, presenteando-nos com outros belíssimos vinhos em diversas faixas de preço e algumas obras de arte, verdadeiros néctares de primeira grandeza.

           Importante lembrar que as legislações, tanto Argentina quanto Chilena, permitem um porcentual grande de participação de outras uvas num vinho varietal. Por exemplo, quando você compra um Cabernet Sauvignon, você poderá ter 10 ou 15% de Merlot ou Malbec ou, ainda Carmenére  de corte. O verdadeiro varietal é aquele com 100% da uva mencionada no rótulo. Nos restantes, a empresa pode até declarar o varietal, mas você poderá estar tomando um vinho de corte que muda, radicalmente, os sabores e paleta aromática do vinho.